União de ciência e negócios: Conhecimento transformado em Inovação

União de ciência e negócios Conhecimento transformado em Inovação
Novo movimento na USP pretende aproximar universidade do ecossistema de negócios. (Foto: Diabeticool)

 

Segundo o chefe do departamento de administração da FEA -USP, Moacir de Miranda Oliveira Junior, o propósito do movimento é fazer com que a universidade tenha um papel protagonista no ecossistema de inovação brasileiro, e consequentemente entre no mundo de negócios.

Como parte dos esforços, a FEA promove nos dias 22 e 23 de março a SciBiz Conference, um evento para unir o mundo científico e o de negócios. A programação contará com empresas como Huawei e Vox Capital, organizações de empreendedorismo, como a 100Startups, além de acadêmicos de instituições como Stanford e UC Berkeley. Em entrevista à Época NEGÓCIOS, Oliveira fala sobre a importância da união desses mundos para fomentar inovação de forma significativa:

Por que unir ciência e negócios?

“Quando analisamos o cenário global e nacional, há uma preocupação crescente com a economia global do conhecimento. É a ideia de que você precisa ter uma economia baseada em conhecimento e tecnologia. Para criar um círculo virtuoso em um país ou região, você precisa que sejam criados novos negócios fortemente baseados nisso, que vão gerar produtos de maior valor agregado, que vão demandar mais mão de obra qualificada e, portanto, melhor remunerada. O contraponto é você ter um país dependente de produtos de baixo valor agregado, commodities — você depende de recursos naturais, não precisa de mão de obra qualificada, paga baixos salários e não gera riqueza para a economia. Se a gente quer trabalhar com produtos baseados em tecnologia e conhecimento, a universidade é uma das forças motrizes desse tipo de economia.”

É um movimento que observamos em outros países, certo?

“Se você olha para os principais ecossistemas de inovação no planeta — Vale do Silício, por exemplo —, você tem um ambiente acadêmico onde grande parte das maiores empresas surgiram dentro das universidades. Estamos falando de Stanford, Caltech, UC Berkeley. É um grupo de universidades que tem uma interface muito grande com o ambiente de negócios e com o governo e que tem fomentado essa profusão de empresas. Se você vai para o outro lado dos EUA, a costa leste, vê o mesmo movimento em Massachusetts — toda aquela profusão de empresas de biotecnologia e dos mais diversos setores. Muitas delas são de egressos de Harvard, MIT, Babson College e assim por diante. Você cruza o oceano e vai para a Inglaterra: tem o ecossistema de Cambridge, em torno da universidade de mesmo nome. Você vai para a China, que é o gigante emergente, o ecossistema de inovação está muito em torno da Tsinghua University.”

Temos como chegar a esse patamar?

Nós somos a business school da maior universidade de pesquisa da América Latina. Entendemos isso como uma vantagem competitiva da nossa escola. No Brasil, temos outras business schools que são muito boas, mas somos a única dentro da maior universidade de pesquisa da América Latina. Portanto, queremos ter o papel de maior protagonismo nesse ecossistema de inovação, colocando-nos como um catalisador da relação da universidade com o mundo de negócios. Afinal, negócios estão no DNA da nossa escola. E temos a missão de aproximar os dois mundos — o mundo da USP e o de negócios. Por isso, montamos um evento. Na verdade, não é só um evento, é um movimento.

E qual a proposta dele?

Nós esperamos aproximar cada vez mais a USP e as universidades de uma maneira geral com o ambiente de negócios. A USP já faz bastante coisa. Pelo segundo ano consecutivo, fomos eleitos a universidade mais empreendedora do Brasil. Nós temos também o único mestrado profissional em empreendedorismo do Brasil, que é aqui no nosso departamento. Temos também a maior incubadora de empresas de tecnologia da América Latina, o Cietec [Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia]. Já fazemos bastante, mas achamos que conseguimos fazer muito mais. O evento tem o objetivo de ser o impulsionador desse movimento e tem a ver com essa interação do ambiente acadêmico, científico, de descoberta, e como levar esse conhecimento para a melhoria da sociedade.

Essa relação ainda é fraca?

A nossa visão é a seguinte: existe muita pesquisa de alta qualidade sendo feita na USP. E essa pesquisa é levada para a sociedade através dos nossos alunos, dos artigos que nós publicamos. Mas nós achamos que há muito conhecimento que pode ser transformado em inovação. Qual a nossa definição de inovação? É o encontro da invenção, da descoberta científica, com a oportunidade de mercado. Por exemplo, temos aqui dentro da USP uma das cinco melhores faculdades de odontologia do mundo. Mas será que estamos levando conhecimento de primeira linha à sociedade na velocidade e intensidade que poderíamos? Temos a melhor faculdade do mundo? Talvez sim. Temos a melhor saúde bucal do mundo? Talvez não. Há muitas descobertas sendo feitas na física, química, biologia, medicina, odontologia. Nós gostaríamos que cada vez mais esse conhecimento gerado na universidade fosse transferido para a sociedade.

Fonte: Época Negócios